Chegou em casa, na surdina, deixou a caixa enorme na garagem, não sem antes abri-la, pegar o manual, que veio numa embalagem de plástico, com duas ou três chaves, uma micro bomba e uns decalques de super-heróis da moda. Sentou no chão.
Achou meio espalhafatoso aquele monte de coisa, mas não resistiu dar uma última olhadela pra ver se não continha um USB ou CD de instalação.
Que bobagem, admitiu, é apenas uma bicicleta infantil.
O último celular que comprou (aliás, ganhou num plano extra-minutos-tipo-recebe-e-não-paga-liga-paga), tinha um manual tão extenso, que ele desistiu na parte que ensinava como enfiar o plug pra carregar (o que é muito antes da parte que ensina a descarregar as fotos no PC). Mas isso foge a este assunto.
De cara, desprezou as duas primeiras páginas, já que ensinavam a montar o veículo.
Deu um tapa na própria testa ao bater os olhos de relance no tópico que falava de joelheiras, cotoveleiras e capacete, que eram opcionais. Ô cabeça. Amanhã comprava.
A parte final não dava pra ler. Aquelas porras de letrinhas miúdas sobre falta de garantias e das garantias, que também vinham a ser um saco, até porque ele não enxergava direito.
Então, foi direto ao que interessava:
“Como utilizar este veículo.
Instale os equipamentos de segurança (figuras 1, 2 e 3). Uma vez acomodado(a) no veículo, em via plana, o que se consegue tradicionalmente posicionando-o entre suas pernas, verticalmente, considerando que o usuário esteja em pé, apoiando seu assento no celim da bicicleta (figura 4), deve elevar um dos pedais (figura 5) ao nível máximo indicado (figura 6) com um dos pés (o que se sinta mais seguro), devendo, ao mesmo tempo em que se apóia, segurando firmemente no guidão (figura 7) com ambas mãos, forçar o pé que está em cima para a frente, apoiando imediatamente o outro pé no outro pedal (figura 8), impulsionando o veículo de forma a que este ganhe movimento em direção frontal.
O objetivo é obter um efeito de pêndulo capaz de manter a bicicleta equilibrada e em movimento (figura 9).
Se acaso esse fenômeno não for obtido imediatamente, o usuário não deve desistir e repetir esse procedimento tantas vezes quantas necessárias.
A assistência paterna ou materna poderá ajudar, inicialmente com manifestações de apoio ou algum material de primeiros socorros (figuras 10 e 11)...
Ombreiras devem ser usadas em casos mais difíceis (figura 12)... Ladeiras e pirambeiras devem ser tentadas em casos extremos (figuras 13, 14 e 15), mas, para casos normais, deve-se tentar o expediente de um dos pais segurarem o veículo pelo celim, correndo atrás do iniciante e empurra-lo, até que este adquira confiança e, sem que ele saiba, soltá-lo, deixando-o pedalando pela via plana (figura 16).
É lógico que, assim que ele percebe que você o soltou, virá cair (figura 17). E isso pode acontecer, em média, umas trinta vezes. Mas cabe a você, responsável, usar de meios que não caberiam mencionar neste manual, persuadi-lo a persistir.
O resultado final é o mais importante. Asseguramos que, em menos tempo do que qualquer uma das partes envolvidas o possa, o feliz proprietário do veículo e o, por assim dizer, instrutor, obterão resultados satisfatórios na condução do produto (figura 18).
A partir desse momento, o novo condutor estará apto a transitar por entre os demais veículos, bastando observar o contido no anexo II, que vem a ser o CTB. Este jamais observado pelo cidadão comum.
A empresa se responsabiliza por todas as condições descritas no Anexo I e espera não precisar faze-lo...”
Ele bem que devolveu tudo na embalagem e fez menção de jogar aquela merda toda no rio.
Mas aniversário de filho é outra merda.
E, acreditem, até que deu certo.
O gesso no antebraço esquerdo quase não atrapalha.
Mas a rampa de saltos já foi descartada. Pelo menos por enquanto...
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
DAQUI PRA FRENTE TUDO VAI SER IGUAL
Comecei com um texto antropológico. Estava falando sobre o efeito da internet sobre nossos reclusos jovens. Na 20.ª linha desisti.Preferi um jeito mais twitternesco: quem não se interessa em saber quem somos, como chegamos até aqui ou de onde partimos, tem mais chances de jamais saber para onde vamos ou aonde chegaremos. Passou de 140, mas, quem é tão hábil em usar 140 caracteres?!
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