sábado, 29 de outubro de 2011

A questão do preconceito

Gente, como artista de nível apenas razoável, tenho, ao longo de anos, observado esse fenômeno que se estende há eras e, sempre, existiu em todo o planeta, aonde quer que haja um ser humano.
Temendo ser prolixo, quero dizer que seja lá qual a definição de adequação que um indivíduo adote, o conjunto das manifestações de qualquer grupo sempre foi, e parece que será, objeto de preconceito, perseguição, intolerância, e o mais dos quesitos negativos que caracterizam a personalidade do homem (e de muitas outras espécies animais).
Se fosse falar da arte, não conseguiria resumir neste tópico as implicações antropológicas que esse assunto encerra. Vou falar resumidamente de música popular.
No globo terrestre ela se desenvolveu como resultado de, ao menos, um binômio, que vem a ser aquele que envolve dominadores e dominados.
Daí sua característica. Nas culturas mais antigas e que filtraram essa equação, a música popular traz qualidades de forma e conteúdo, elaboradas durante séculos, que se transformaram em tradição e, embora apenas estudiosos sejam capazes de identifica-las, trazem à maioria dos espíritos o resultado que tencionam.
Já, nas culturas mais jovens, música popular é mais sinônimo de entretenimento, diversão e liberdade de expressar a fase ou o momento, partilhados por um grupo de indivíduos que desejam apenas ser aceitos ou impor-se num cenário social.
Desde os anos 1940 até meados dos 1980, era a música Pop produzida nos EUA ou Inglaterra, França e Itália, que surfava nas ondas das rádios no Brasil. Muita gente sequer se deu conta da qualidade dos movimentos musicais que aqui ocorreram entre os anos 1950 e 1970.
A partir dessa época, desde a dita “música brega”, dos grandes poetas e dos míticos instrumentistas e suas peças fantásticas, artistas fincaram suas bandeiras no solo musical brasileiro.
Com a migração de um grande contingente aos grandes centros urbanos, os indivíduos trouxeram suas grandes doses de afeição a seus temas tradicionais, que, misturados aos dos locais aonde se fixaram, contagiaram as gerações posteriores de forma que essas informações desembocaram numa mistura cultural capaz de agir até em quem a ela não vivenciou.
Daí para o showbiz, apenas alguns passos. E esses que galgaram um lugar de destaque no mercado, não passam de seres humanos, sujeitos a toda sorte de inconfessáveis pensamentos, inimagináveis inquietações e consciência de suas limitações. Dores humanas, das que sofro eu e sofre você. Síndromes que vão desde a da “do bicão” à “do virtuoso”, da do “frustrado” à do “sabe com quem está falando?”. E da mais cáustica: a do “crítico” .
Grandes ídolos se foram por não conseguirem lidar com situações que exemplifiquei. Grandes e significantes pra mim. Daí porque entendo o significante de alguns ídolos dessa praia que não frequento.
Mas espero, sinceramente, que nem o preconceito, nem a frustração, nem as diferenças de conteúdo, formação musical e estilo, sejam capazes de fazer com que pessoas sensíveis, virtuosas em seus misteres musicais, diletantes ou eruditos, desejem a extinção daqueles que não considerem seus pares.
Isto é um manifesto pela liberdade de expressão, mesmo que implique em que eu deva passar o resto dos meus dias repetindo músicas em que acredito, para pessoas que delas gostam e fazem desse gosto um estilo de viver. Mesmo eu ganhando pouco e bebendo mais do que deveria.