domingo, 27 de setembro de 2009

Para minha filha adolescente

Você sabe que está apaixonada e não é correspondida quando não consegue pensar em outra coisa senão no objeto de sua paixão. Você tenta pensar em outra coisa e... lá está ele. Você ri de coisas que parecem que aconteceram. Você sente raiva por isso e pelas outras coisas. Você bate na própria cabeça e a imagem dele se refaz, mais forte. Sente vontade de procurar um contrabandista de armas pesadas, mas... não, que idéia estúpida. Tenta ser equilibrada. Pronto. Respira. Fácil: inspirar e expirar. Dor de barriga. Será que sobrou chocolate? E se desse mais uma olhadinha no orkut dele? Não, besteira. Ele vai sacar. E se ele estiver rindo de você? Alguém conhece algum contrabandista de armas pesadas?! Não. Essa idéia já estava descartada. Já sei. Você escreve 30 canções não falando nele e, quando ele não ouvi-las, não vai saber que você só pensa nele e na puta raiva que sente disso. Daí você se vinga: abandona seu blog e assim ele sofre. Há! Taí: se vinga de todos, dele, de você, da sua “burrice”, enfim da fatalidade de ser humana como outro humano qualquer. Também pode matar aquele meio litro de refri solitário na porta da geladeira....

sábado, 26 de setembro de 2009

Um pouco mais

Estes posts são de textos escritos já tem algum tempo.
São aleatórios. Mas verdadeiros.
Tenho andado com o coração apertado, com o bolso apertado, procurando acertar o prumo das emoções e realinhavar um pouco do que em minha cabeça explodiu.
Mas insisto. Porque acredito. E não é hoje que me conserto...

Noites e dias

Há noites e há dias, noites em claro, dias escuros.
Mas há noites claras, que se seguem a dias azuis. Essas são as melhores.
As que têm cheiro da brisa que vem do mar ou da terra, então, são quase tão boas quanto as escuras com cheiro de flor.
As noites...
Mas há os dias. Os chuvosos têm sua beleza. Os tristes também podem ter. E nisso vai uma certeza: depois do dia vem a noite e depois outro dia, e outra noite, numa coleção inevitável, feita de peças que não se repetem jamais...

Feito um pardal

Não me tente
Não tente me prender
Se não puder fugir
Eu posso morrer

Nasci livre
Como todo qualquer
E aprendi a me virar
A viver no sertão
Na cidade
Na beira do mar

Veja, não preciso
Da sua bondade
Talvez de aceitação
Preciso acreditar
Mais no justo
Que no perdão

Não me ature:
Eu sou fibra
No cinza das fachadas
Eu me banho
Na areia das estradas
Bebo a água das poças
Faço pouco das troças
E amo um bando:
Única vaidade

Não queira saber
Quantos ninhos eu fiz
Todos são verdade

Enfim, hoje eu ecôo
Pela eternidade
Onde entrei
Pela porta da frente
Não dá pra seguir
As pegadas de quem voa
Nem acima do bem
Ou do mal
Imagine-me livre
Um frágil, um forte,
Apenas livre
Como sempre
Feito um pardal

Pra sentir-se só

Joguei fora aquela cinza
Dei descarga naquele tablete
Troquei a begônia por Linda
Masquei e cuspi seu chiclete

Mandei embora sua gilete,
Um recorte tricolor
Um chinelo (aquele papete),
Uma camisa já sem cor

Era só pra passar por um tempo
Mas eu vi que esse tempo passou
Meu armário já tem preenchido
O espaço que o tempo levou

‘Inda agora enchi um saco
Botei tanta coisa fora
Tantos planos, baratos,
Joguei e o lixeiro levou

O cachorro latiu, como sempre
E eu, nem triste ou feliz, indiferente,
Só senti o vazio que fica na gente
Como sentir frio num dia quente

Não medi pra ver se era febre
Entreguei à intuição
Tomei aspirina, de leve,
Tentando não rolar pelo chão

De longe, minha solidão
É, de longe, a melhor amiga
De perto, a solidão, além de minha,
Não tem quem a entenda e a diga...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Obrigado

Obrigado por se darem ao trabalho de ler o que até agora postei.
Mais coisas virão.
Quem gostar grita Sim! Quem deixar de gostar escreve Não!

UM BICHO DE ESTIMAÇÃO

O que ia na frente, montado no burrão de passo duro, era primo dos dois que iam ali, bem atrás.
Desses dois, um montava um pangaré sadio e o outro um jumento tão minúsculo, que, pra chamar atenção, nem precisava ser tão enfeitado. Bastava seu montador apoiar os pés no chão que o bicho saía andando, passando por entre as pernas do peão.
Naquele sertão alagoano não tinha jumento menor nem mais bonito, tampouco mais enfeitado – já que por ser o menor e mais bonito, tinha de ser o mais enfeitado, já que era o jeito de seu dono mostrar por ele seu amor.
Até as putas se avexavam de ciúme.
Ali, os três faziam farra.
Cada um levava na cintura o que acreditava ser sua defesa.
Eles se riam de tudo: do torrão de terra na frente da areia branca, do cara-cará espreitando a tarde, da cachaça que o turco ia tentar trapacear.
O que ia na frente parou: Tirou o 22 da cintura e, rindo, bem que fez pontaria, mas foi atropelado pelo outro, que já tinha sacado seu 32, limpo e azeitado na noite anterior...
Quem pediu licença pra atirar foi o do jumento.
Ele, não fosse o jumento, era respeitável apenas pelo trabuco. Sabe aqueles trabucos que se carregam pela boca? (um pouco socado de pólvora, mais um pouco socado de chumbo granulado, um pouco socado de paciência - já que essa coisa explode até no tratamento).
Os dois, dos três, arredaram braço, sinalizando que era a vez indubitável deste terceiro, já que tinha a arma mais antiga, a que mais trabalhara na defesa de sua família (desde seu bisavô).
Um largato, de uns dois quilos, num pé de pau, tomava a fresca do fim de tarde.
Ele sacou do trabuco, descansou pontaria.
Apoiando o cotovelo na testa do jumento manso, enfeitado e cheiroso como o quê, sentindo uma satisfação que, com certeza, era reservada a poucos, apertou o gatilho.
Antes do lagarto se mexer, do susto provocado pelo estampido, o atirador, em pé, chorou ao ver seu jumento inerte, cabeça sangrando, se embolar sob seus pés: o tiro saiu pela culatra...

Amigos

Amigos são leais, pois são amigos.
Problemas pessoais, crenças pessoais, dilemas: esses não importam...
A amizade transcende a pessoa.
A amizade é uma reserva que se cultiva feito uma poupança para os dias difíceis.
Amigo tem escrúpulo pra saber que é a conta de poupança de seu amigo, tanto quanto ele é a sua.
Um cara que agride a mulher, espanca o filho, não tem o mesmo comportamento em relação aos amigos. Porque a amizade não se mantém na pancada.
Porque amigos são críticos e sua sinceridade implica essa crítica e, nisso, repousa a amizade.
Tem cara que domina a mãe, a mulher, o marido, os filhos.
Mas, mesmo esses caras, não dominam uma amizade.
A amizade não comporta domínio. É o equilíbrio perfeito.
Se não for assim não é amizade.
Beijo meus amigos: o ósculo da confiança.
Cheio de defeitos, entrelaço minhas mãos às suas (não mais ou menos defeituosas), aceito-os como sou aceito e agradeço por sua simples, perfeita e imprescindível amizade.

As garotas

Alheias ao que as rodeia, elas tocam-se nos braços e ombros umas das outras e riem. Levantam a cabeça alternadamente e fecham os olhos, para abaixá-las em seguida, meneando o corpo. A fronte tocando a do lado, ocasionalmente. E riem.
Um celular interrompe, por um momento, aquele clima: aparentemente se espantam.
E, de repente, se abraçam, como se comemorassem.
Isso em menos de meio minuto.
Irrompem em novas risadas, olhos fechados, retornando ao começo.
Uma faz que se vai e as outras a impedem.
Nada disso se pode ouvir daqui.
O que ouço, apenas e agora, é um estrépito, um estrondo, já que o trem se aproxima.
Mas elas, ainda alheias, na plataforma oposta, sequer o percebem.
Giro a cabeça, olhando, partindo, e elas riem, riem...

Uns

Uns bêbados, uns mendigos,
umas senhoras de bobis e penhoar,
talvez uns vizinhos,
umas bichas e seus cachorrinhos,
todos sem notar, enquanto faziam na calçada
o que podiam,
já me viram passar
de vagarinho, 17 anos,
voltando da noite e
trazendo nas costas o violãozinho.
Vindo de noites
feito da noite um passarinho...
Às vezes pulando amarelinha -
às vezes tropeçando, meio bebinho,
alegre de ter visto e estado com um Filó, com gente noir,
filosofando numa mesa,
beijando uma moça linda que me achou bonitinho.
Noutras, triste por ter ficado sozinho...

Tão intensa como a troca de um instrumento
é a interação com a vida...
Quantos caras começam na escola e vão
se promovendo, seguindo o curso,
deixando paixões para trás...
Quem não tem “saudade da professorinha”,
quem não se lembra do primeiro instrumento,
da primeira mão pela qual se lançou na vida.?!

Aquele Bexiga, nas suas ruas,
Como as mãos que nos puseram na vida, é a escola:
só não me fez melhor porque eu só tenho esta vida.
Quisera além de ter nascido em Sampa, ao mesmo tempo,
ter nascido em Salvador, Olinda, Porto Alegre, Belô, Brasília,
Santarém, Boa Vista, Manaus, Rio, Curitiba – todas
essas e mais:
Andar por suas ruas, violão nas costas,
vendo velhas e bichas, ao amanhecer, catando as bostas,
e, no coração, entre a noção do que não basta,
Trazer aquela arte franca, aquela virtude, aquela que fica entre a emoção espúria e a dita casta nas costas...

Carta de amor

‘Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...” (Fernando Pessoa”)
Há tantas frases de amor, tantas preocupações sobre o amor, que nos deixam sem palavras, sem escolha.
Não como quando tentamos escolher flores para a ocasião certa.
Agradeço a você por, mais esta vez, me amparar, compreender, esta situação “Familiar” minha.
Não consigo sequer avaliar o impacto disso sobre nossa vida.
Sem pretender levar você na conversa, quero dizer que já escrevi, já apaguei mil vezes (como faço sempre), “busquei a palavra mais certa”, refiz e rebusquei.
No entanto, só consegui achar o seguinte: “precisamos fazer mais amor”.
Palavras não dizem nem explicam.
Amo você. Não existe nada depois disso. O que aconteceu antes a gente tinha que “gastar” em amor...

Eis me

Sempre quis manter um Blog. Ainda não domino nem a linguagem da internet nem a dos Blogs.
Falando assim, até eu acho que estou começando mal.
Mas, por orientação médica (!), resolvi criar o meu. Acredito que, com o tempo, posso ser procurado pelo Google e etc. Ou pode ser que na próxima consulta o médico mude de idéia...
Por enquanto, mesmo ainda sendo pobre, vou tentar uma certa regularidade em escrever e postar textos, que poderão ser cópia de scraps, poesias, letras de música, crônicas, contos e o que mais pintar nos meus neurônios (ultimamente meio desconexos) e convido a quem quiser, manifestar-se a respeito das palavras.
Críticas serão bem-vindas. Ainda tenho prazo pra me adequar à nova modalidade de ortografia, até ser reconhecido como semi-analfabeto. Portanto, me sinto corajoso o suficiente para escrever. Quem não concordar com o conteúdo, também aproveite. É o que espero.
Meu maior desafio será não deixar faltar algum humor (porque será sinal de que o médico ainda não acertou na mão).
No mais, agradeço sua paciência e seu prestígio.
Qualquer comentário será um bem danado.
Valeu, galerinha!
Grato pela paciência.
Sigam sua leitura e boa viagem.